e sempre que o Homem sonha...

Entravas de rompante na casa despida de paredes. O azul cortava as suspensas janelas oblíquas e a cada canto duas cadeiras sobrepostas socializavam no aveludado de outros tempos. Eu, estendida sobre a madeira tosca, em paralelo com o tecto falso e imperfeito e de olhos postos na luz ténue do abajour, disse numa voz magoada:
-"não vês que dói..."
Os teus passos rangiam na minha direcção. A sensação perfumada de te ter mais próxima fez renascer uma esperança já guardada. Não és pó, nem peixe fora d'água. Não te temo, agora.
A maçã que trazes contigo, de pouco lhe resta. Ouço os teus dentes rasgarem a casca verde, ao mesmo tempo que salpicam gotas do sumo nela comprimido. Bem ácido, como tu gostas. Já ao meu lado, num ângulo recto, sinto o teu olhar carregado. Afasto os olhos da luz num gesto tão repentino e ansioso que tudo rapidamente se esvanece.

"Vá,dorme, fui só apagar a luz. Boa noite."

1 comentário:

Anónimo disse...

Pobre casa despida
o rampante é dele
será mesmo...
tuda nada fez quando ele pediu socorro...
paredes na casa
que casa
se nela nada existe mais
a doce ilusão deixou de existir na realidade do abusurdo e do abandono.
sim pimenta no cu dos outros é refresco nao é mesmo.
pobre maçã
de seu aroma e gosto
de seu uso
da bruxa a princesa 100 anos de esquecimento
o tempo passará e nada
absolutamente nada irá mudar
continuamos nas cavernas desenhando em paredes e esculpindo em pedras...
a humanida caminha silenciosamente sem nada saber
apaga a tua luz
dorme
dorme em paz
afinal
todos dormem
em paz
ai ja é outra historia...
no final da vida
respire ainda mais fundo
quem sabe este ar extra te traga na memoria
do quanto foi cruel e sadica