A culpa foi dele

You Are 25% Left Brained, 75% Right Brained

The left side of your brain controls verbal ability, attention to detail, and reasoning.
Left brained people are good at communication and persuading others.
If you're left brained, you are likely good at math and logic.
Your left brain prefers dogs, reading, and quiet.

The right side of your brain is all about creativity and flexibility.
Daring and intuitive, right brained people see the world in their unique way.
If you're right brained, you likely have a talent for creative writing and art.
Your right brain prefers day dreaming, philosophy, and sports.

Meio dia

Na rua esguia e rugosa, os pés perfilam-se zangados pelo aperto do relógio que aponta para as 12:00. A virtude do dia não permite que os olhares se encaixem como embalagens de fruta expostas nas vitrinas das lojas. É o sol que lança sobre o escudo dos postes e dos muros raios escaldados que amarelecem as sombras escondidas. Rostos esbatidos voltados para a plataforma de paralelos desordenados, quebrando com a serenidade perturbadora dos braços pousados sobre as grades das varandas, casa sim, casa não. Toc, toc. O salto a galope da senhora lábios rosa choque. Trim Trim. O choro da campainha quando lhe tocam no dói dói.

Ainda há lugar para ti na mesa. Haverá sempre.

Anotações

Amar, tu
Amares
Bar
Café
Num café-bar de Amares. O local.
Uma
Duas
Três
Eu e mais três. Quatro figuras.
Nem é uma banda, nem é uma trupe.
Amigas, sim
A braços e abraços
A vozes
A música
Uma música de braços e vozes. A acção.
Rir
Rimo-nos para a lente
Tu aqui
Eu ali
Ela acolá
Prepara e tira
Flash, flash!
Agora ao contrário.
Efeito luz nocturna, efeito branco total, efeito “não te mexas!”.
Flash (bis)
Perfeição
Do lado de fora
A perfeição ficou lá fora.
Mesas e cadeiras. Palavras.
Em cima, sobre
Cadeiras por cima das mesas.
As palavras sobre as cadeiras.

A noite prestes a fechar.

Sentimentos, anseios, “e lembras-te”
Ausência de ti.
A saudade. O inevitável.

A noite prestes a fechar.





Entrelacei os sentidos que me sustentam no teu abraço fugaz. E abandonei-os. Desde aí, o leme anda descontrolado e o barco à deriva, ao sabor das tempestades.

numa tarde com neve

Tinha a cara branca, branquinha como a neve. No entanto, não era branca, nem tinha neve. Acho também, mas isso só sou eu a achar, que não usava capuchinho no casaco. Aliás, de longe via-se que trazia uma camisola com botões, quase blusa. Dizem que estava gélida e parecia ter sido coberta de tinta incolor.
Ele recuou e soltou a medo estas palavras “Já só tenho um m&m’s roxo a tender para o azul doente…desculpa.”
No entanto, qualquer um que o conhecia sabia que ele, habitualmente, mentia com todos os dentes, ainda que só fossem três e nenhum deles branco, como a neve. Quem viu comenta que deviam ser dois incisivos e um pré molar. Ainda assim, tinha esvaziado o saco amarelo-torrado. “Safado!”
Creio, segundo se consta, que o dito saco estava meio-meio cheio. Porém, há quem não esteja com meias medidas e afirme peremptoriamente que o saco estava sim meio-meio vazio. “Meio safado!” Quer-me parecer que estes últimos estariam, de certo modo, do seu lado. (talvez se lhes perguntarem, eles saibam dizer se era uma blusa ou uma camisola com botões).
Entre insultos alheios e nódoas de chocolate, e este foi o cenário que pintaram, eis que surge alguém [fala-se de um primo afastado da rapariga] vindo do lado mais esquerdo da rua, onde um condutor teimoso insistia em lançar lufadas de fumo negro made by cano de escape reformado. Esta aparição quase sebastianina estendeu o braço na direcção dela e com a mão ainda fechada, disse com uma voz mastigada: “- Acabei de comprar rebuçados flocos de neve e Dr. Bayard. Escolhe!”
Perante o olhar ainda meio indignado e já quase espantado de quem lá estava, ou seja, aqueles que realmente conhecem o episódio, a rapariga virou costas e dirigiu-se para o carro que se mantinha do lado mais esquerdo de rua. Entrou e ao que parece partiu com o teimoso condutor. Rapidamente o carro desapareceu entre o fumo.
A apatia admirada foi quebrada pelo gesto brusco do homem dos três dentes que arrancou os rebuçados da mão da aparição e desatou a fugir.
Sabe-se que acabou por partir dois dos três dentes que restavam enquanto tentava quebrar desenfreadamente dois flocos de neve.
Mas esta estória, insisto, é baseada em rumores.


Nota: Veio a descobrir-se que afinal a única peça de vestuário que surge como personagem na estória era uma t-shirt com um estampado que dizia “ I Love m&m’s”.

moleskine de mentol

Era a miúda das pastilhas de mentol.
Todos os dias à mesma hora sentava-se no jardim da praça. Depois de estendida a manta que trouxera do serviço de voluntariado, apenas porque se afeiçoara ao coelho vermelho bordado, colocava os óculos geometricamente azuis.
De olhos semicerrados, mexia energeticamente em movimentos desconcertados a boca pequena. Volta e meia, soltava a rebeldia num balão elástico. Era um gesto mecânico e frenético. Os balões sucediam-se como se de uma competição se tratasse. E lá permanecia, até devassar por completo a identidade da pastilha elástica.

Indiferente ao olhar curioso dos velhos que se perdiam nas horas entre as pintas pretas dos dominós e os reis e as rainhas do já gasto baralho de cartas, ia folheando com nostalgia o seu caderno de bolso de capa negra . Tratava-se de um moleskine que oferecera a si própria no ultimo aniversário. Fora o primeiro de muitos.

Todos os que lhe eram próximos conheciam esse seu enorme desejo de partir à descoberta do mundo. Desde cedo que fazia dos guias de viagem o seu livro de cabeceira. Mas enquanto não cumpria o sonho, vivia intensamente esse desejo. Respirava-o.
Naquele pequeno objecto eram relatadas todas as viagens que imaginava. Sonhos vestidos por letras fechados entre folhas. A descrição era de tal modo minuciosa que fazia crer a qualquer um que lesse que tal viagem tinha sido, de facto, concretizada. Cada pormenor, cada expressão, cada local...Tudo fazia sentido no seu mundo onírico, tudo era tão perceptivel aos olhos de um verdadeiro viajante.

Naquele dia, o vento mostrava alguma inquietude, ora ameaçando com zumbidos, ora abanando as árvores num desejo arrebatado de as despir. Ela ia afastando as folhas que teimavam em cair sobre o caderno.
Sentia-se a versão feminina do Bruce Catwin, o aventureiro escritor de viagens. Tinha na mão um valioso testemunho daquilo de que era feita. De vez enquando dava voz às viagens e lia as passagens com tanto entusiasmo e empenho como se de um púlpito discursasse. O barulho do vento, ainda assim conseguia abafar a sua leitura.

Era capaz de ficar horas, ali, como se o mundo parasse e ela levantasse voo na sua manta preferida, qual Aladino versão Gulliver nas suas viagens. Não se sentia poeta, nem grande, apenas maior do que os homens. Pelo menos aqueles que dividiam consigo os fins de tarde na praça.

As palavras deram lugar a novos elásticos balões. A tarde à noite.
Apagou-se a voz. Acederam-se as luzes dos candeeiros. Fechou o caderno em jeito de despedida e colocou o elástico à volta da capa negra, metendo-o de seguida na algibeira. O vento parou de soprar.

Era a miúda das pastilhas de mentol.

horas

Em que travo uma luta desequilibrada entre a tua força a minha inércia.
Em que me sugeres sentidos positivos por caminhos recalcados e incertos.
Em que procuro, incansavelmente, por entre nós de desconfiança e indiferença, um motivo para abandonar este cinismo sorridente.
Em que se ouve um cerrar de olhos, assim, bem amargo, como a ferrugem provocada pela humidade constante das lágrimas matinais.
Em que troco as voltas aos ponteiros, puxando-os para um lugar que não lhes pertence.

São horas que espezinham minutos e oprimem segundos. Que rasgam os dias com a pressa de apanhar o próximo comboio para um futuro amedrontado.

Está na hora de dar corda ao relógio. Sabes que horas são?

verde. verdes.

Musgo, que a menina recolhe com gestos convictos de quem sabe o que faz. Ou vai fazer. Fresco, escondido por entre pedras e água da chuva tardia. Protegido pelos ramos do velho carvalho que impede o olhar curioso do sol.

Lima e Limão, que amarga e arrepia. Na árvore, no cesto, na banca , no copo, na boca sedenta. Sente o cheiro. Agora refresca, a ti. "Pode ser de menta, obrigada." Ela só gosta assim."
Esmeralda. Foi em Maio que te dei o nome. Em bruto ou lapidado sobre um pêndulo. Embelezas e dás brilho mesmo sem a autorização do pescoço. Porque és mineral, não tens de pertencer ao mineiro.
Às vezes, confundes o mar, outras sentas-te à mesa com o tropa. Parecem duas azeitonas que, mal se despediram da Sr. Oliveira, já reflectem como espelhos d'alma.
"O caqui fica-te bem, mas se for mais escuro combina melhor." Voltas para a boca sob a forma de abacate e esqueces a alface que agora pertence ao caracol.
Na minha tela és primária, mas baralhas-te qundo te falam nos pantones.
Partido, pela metade. São os verdes! Posso continuar? Sim, a luz está verde.

"Orgulhosa de si e quase satisfeita da sua recolha, a menina levanta o olhar, outrora compenetrado naquelas plantas, quase algas, sem raiz. "Olha! Uma linha!" Muitas linhas em arco que o compasso desenhou. Chama-se Íris. E ali estás tu.
Vento que sopra, folhas que flutuam no ar, cadentes. Pinceladas esverdeadas que o pintor distribui no papel. Não é ele. Nem ela. É cor. E ainda é tão verde...